sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Não se Mate (de Carlos Drummond de Andrade)

Data original 17 out 2004

Esta eu indico para um amigo em especial (ele vai saber que é ele). Não, acho que ele não vai se matar (ufa!), mas sempre é bom dar uma força para que tudo melhore.
Beijos p/ você meu amigo, e p/ todo mundo que vir este poema!!!


Não se Mate

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, ó não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, pra quê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.

(Carlos Drummond de Andrade)

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